Anualmente, Confederação premia personalidades que se destacaram na panificação das Américas. Desta vez, o mérito é brasileiro.
Marcos Gugel sempre foi o filho mais próximo de Dona Telma. Ao contrário dos irmãos, podia passar horas observando e aprendendo com a mãe na cozinha, lugar onde Telma preparava de tudo, inclusive aquilo que se tornaria o maior apreço de menino: o pão de fermentação natural. “Pão é família, não tem jeito. Vai do afeto, das memórias de criança, até a técnica, o fermento, a mão na massa”, conta Marcos Gugel. É o fermento a verdadeira herança da família. Prova disso é que ontem, 27, ele recebeu em Montevidéu, no Uruguai, o prêmio de Padeiro CIPAN do Ano 2019 – o equivalente a Melhor Padeiro das Américas em 2019. A mais alta honraria da panificação das Américas é concedida pela Confederação Interamericana da Indústria do Pão – CIPAN.
Mas da cozinha do Paraná, estado onde nasceu, à premiação internacional, muito caminho teve de ser percorrido. Gugel, como ficou mais conhecido, começou ainda jovem a percorrer o país e compartilhar o pão. É que, quando rapaz, exerceu a profissão de caminhoneiro, o que deu a ele a oportunidade de morar e conhecer todas as regiões do nosso Brasil. Tudo isso, sem abandonar o hábito – e paixão – de produzir para consumo próprio e para venda os pães que o lembravam da mãe e da época em que, ainda com 10 anos, levantava de madrugada para acompanhar o trabalho de uma amiga padeira na primeira fornada do dia. Um gosto que muitos consideravam peculiar.
“Acredito muito em missão. Sempre foi e ainda é o meu serviço para a sociedade oferecer o pão. Tem gente que diz que o dia não começa sem o alimento, para mim sempre foi assim. Mas não se trata apenas de um pãozinho, é oportunidade. É caminho próspero para muitas famílias, como aconteceu comigo”. Hoje morador de Recife, Gugel é também professor. Um de seus maiores orgulhos é, logo quando chegou à cidade, ter ministrado por cerca de dez anos um curso profissionalizante para jovens em comunidades em situação de vulnerabilidade social da região. “Felicidade é ter empregado parte desses jovens na minha padaria. É ver que estão quase todos empreendendo, crescendo dentro da economia da panificação e confeitaria. É isso que me fortalece”, disse Gugel, emocionado.
Hoje, o Padeiro do Ano toma a frente da Campo Fertile Padaria Gourmet, junto com sua esposa Inês Helena. Conhecida pelos recifenses, é lá que ele coloca a mão na massa e desenvolve as criações que caíram no gosto dos clientes e o levaram a ser reconhecido pela excelência do trabalho. Os pães de alta hidratação, ciabatta e brioche são os queridinhos dos fregueses. Isso sem falar nas criações inspiradas em ingredientes locais, como o pão com jerimum.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria – ABIP, José Batista de Oliveira, o percurso de Marcos Gugel é exemplar para a categoria. “É isso que nos inspira na área. A história de Gugel mostra um rapaz que passou de vendedor ambulante para empreendedor da sua própria padaria. Gugel dá aulas, forma jovens, e ainda é criativo, usa de ingredientes que deixam qualquer um surpreso – e satisfeito! Estamos muito felizes e orgulhosos com a premiação deste ano, representando muito bem a força dos brasileiros”, comenta.
O prêmio Padeiro CIPAN do Ano 2019 foi entregue em cerimônia no Uruguai, dia 27 de novembro, durante a programação do Congresso CIPAN 2019. Marcos Gugel não esconde a emoção. “Não cheguei aqui sozinho, junto comigo sobem muitos no palco. E o melhor: se eu posso me tornar o maior padeiro das Américas, qualquer um pode também alcançar seus objetivos. Basta acreditar e trabalhar com empenho em busca deles”.